Quem conhece este blogue sabe que nunca estive mais do que 5 dias sem dar notícias.
Há precisamente 10 dias que me sento à frente do blogger, para escrever o que me vai na alma. Não sai nada. Levanto-me. Vou beber àgua. Respiro Fundo. Sento-me e choro mais uma vez. Já não tenho força para nem mais uma lágrima, mas elas vencem-me sempre que tento. Escrevo três palavras. Desisto. Fecho o computador e vou embora. Dez dias nisto. Não consigo escrever sobre uma das piores semanas da minha vida. Passo todos os filmes na minha cabeça cinquenta vezes por dia, mas não consigo escrever sobre eles nem uma vez. Hoje tem de ser.
No dia vinte de Abril, Domingo de Páscoa, perdi a única referência de pai que tive em toda a minha vida. O meu tio, irmão da minha mãe, com quem cheguei a viver em criança quando a minha mãe foi viver para o Canadá.
Foi ele que me ensinou tudo sobre o prazer da generosidade, o bom gosto, como receber, como é importante nos apresentarmos bem em qualquer ocasião, a beleza do que nos rodeia, a paixão pelas viagens e pelo mundo, e que a vaidade pode ser uma coisa boa.
Foi ele que me ensinou que era importante a família se manter unida, depois de a minha mãe partir, mesmo quando uns são de Vénus e outros são de Marte. Foi ao lado dele que estava quando soube que a minha mãe tinha partido. Foi ele que me ensinou que um jantar de Natal em família é para celebrar os bons momentos e de taça de champanhe na mão desde que entramos na porta de casa.
Foi nele que vi um grande lutador pelos seus sonhos, um empreendedor que nunca desistia de nada e que deixou o nome 'António Augustus' na história da moda em Portugal.
Não sei que força me mantém nem como digerir tudo isto. É a terceira vez que acontece na minha vida, com a minha avó, a minha mãe e o meu tio. Uma dor, um lapso, uma entrada no hospital por esta ou aquela razão e partem 15 dias depois, sem saír do hospital.
Entrou no dia 4 com uma suposta hepatite, diagnosticada ao fim de um mês de febre, mau estar e uma dor abaixo do peito. É pneumonia? Foi de uma queda?... será hepatite? Exames aqui e ali. Um Cancro no fígado em estado terminal. COMO? Pode repetir? Precisei de ouvir várias vezes, e de vários médicos nos corredores da CUF. Como é que vivemos a partir de aqui?!
Passo os filmes dos últimos 15 dias na minha cabeça, 50 vezes por dia. Vejo e revejo porque preciso de aceitar mas não consigo. Nunca vou esquecer o que passei e os dias em que passei lá 4 horas e 7 horas. Sempre em pânico e em estado de ansiedade permanente. É nestes momentos que renascem aos nossos olhos pessoas inacreditáveis. Por mais anos que viva, não vou esquecer o momento mais comovente da mina vida. Ver a minha tia que durante uma hora rezou, falou e se despediu, com o coração partido mas cheio de coragem. Disse tudo o que se pode dizer ao grande amor da vida durante uma hora. Agradeceu a vida e o amor que teve. Sem parar de falar. Sem uma única pausa. De mãos dadas agradeceu. Recordou 37 anos de vida cheios de bons momentos e voltou a rezar. Embora quase inconsciente, sentíamos que a ouvia e gemia. Partiu poucas horas depois.
Toda a minha vida existiu a casa do meu tio, o atelier do meu tio, as lojas do meu tio, os jantares de Natal do meu tio, os almoços em família... Todas as minhas referências e o mundo tal como o conheci não vai ser igual. Tudo isto terá de ser reinventado. Não sei, se sei fazer isto.
Dizem-me que vou conseguir... Vou, mas não quero!
Dizem-me que vai passar com o tempo... Vai, mas dói muito!
Que Deus me ajude.
Que Deus te proteja.
Uma das minhas fotos favoritas tirada no dia do Baptismo do meu filho (9 meses) |
Até Amanhã
Ana Antunes
(Thank you for sharing my passion for beautiful homes)